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O desafio dos transtornos de ansiedade entre os mais jovens


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A pandemia da Covid-19 é responsável, segundo um resumo científico da Organização Mundial de Saúde (OMS), por um aumento global de até 25% nos quadros de ansiedade e depressão. A adolescente S., de 13 anos de idade, que mora no interior de São Paulo, viveu a amarga experiência dos efeitos físicos da ansiedade. Nos primeiros meses de 2020, logo que começou o lockdown e suspensão de aulas presenciais, ela até gostou da ideia. Mas com o passar do tempo, a satisfação de não precisar acordar cedo para ir à escola deu lugar a uma profunda ansiedade.

Na época, aluna do 6º ano do ensino fundamental, a aluna afirma que sentiu o isolamento. A ansiedade e a rotina de várias horas em frente ao celular geraram sintomas físicos. Intensificaram-se as crises de enxaqueca e até a visão foi afetada. Hoje S. precisa de óculos para ver com maior nitidez. E as dores de cabeça persistem. A adolescente iniciou há poucos dias a primeira sessão de psicoterapia e espera melhorar. “Mas ficou um certo trauma e um medo de voltar às aulas on-line. Estou trabalhando o fato de ter ficado muito isolada nesse tempo todo”, comenta".


Jovens e adolescentes na mira


O resumo científico da OMS já apontava que a pandemia afetou a saúde mental principalmente de jovens e mulheres. Os jovens, segundo a avaliação da entidade, possuem risco maior de comportamentos suicidas e automutilação.

Em um recorte brasileiro, existe a constatação de que adolescentes também estão sofrendo mais com problemas emocionais. Um monitoramento de 6 mil crianças e adolescentes, feito pela USP, registrou que 36% dos entrevistados relataram traços de ansiedade e depressão durante a pandemia.


Obesidade de informações


A psicóloga e especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e EMDR, Simone Bohry, compreende que a pandemia realmente representou um evento catastrófico com forte impacto sobre as pessoas. E, no caso dos adolescentes e jovens, há, ainda, muitas situações de perda. A profissional, no entanto, chama a atenção para outro fenômeno responsável por essa incidência grande de ansiedade entre os mais novos. Ela chama de obesidade das informações. Há, especialmente entre adolescentes e jovens, uma dificuldade para que absorvam bem tudo o que consomem em termos de informações, especialmente no plano digital. “Estamos vivendo na era do autoconhecimento, mas o que a gente mais presencia são pessoas que não têm habilidades emocionais para lidarem com as próprias emoções e pensamentos”, ressalta".


Vulnerabilidade maior


Uma forte vulnerabilidade dos adolescentes e jovens é, também, um outro fator considerado pelo psiquiatra Fábio Aurélio Costa Leite. Na sua avaliação, um crescente espírito de competição, de busca pela perfeição e grande necessidade de valorização do outro tem sido muito significativa entre as novas gerações. Com o uso desenfreado de redes sociais digitais, toda essa problemática foi potencializada “Existe um medo muito grande de rejeição, de a pessoa não ser inserida no grupo”, explica".



Saídas e caminhos


Simone Bohry e Fábio Leite concordam que psicoterapia é o primeiro tratamento recomendado para quem apresenta sofrimento psíquico. Diante de um agravamento dos sintomas, a intervenção com medicamentos geralmente é necessário. Isso ocorre principalmente quando há pensamentos suicidas e quadros depressivos, irritabilidade, ou medo de relacionamento interpessoal. E mesmo em circunstâncias quando há prejuízo nas relações sociais. O contato com atividades lúdicas, esportivas e com a natureza é altamente indicado para um desenvolvimento das crianças, adolescentes e jovens. Torna-se, por isso, um apoio importante ao tratamento psicoterápico ou medicamentoso. Mas, para a psicóloga, o diálogo nas famílias é essencial. “É a forma mais eficaz de se trabalhar habilidades emocionais e diminuir tensões. O diálogo precisa ser aprendido”, explica Simone.

A especialista assinala, ainda, que as famílias precisam buscar ensino e capacitação sobre o gerenciamento das emoções. A ideia é oferecer uma estrutura básica para as crianças e adolescentes a fim de que possam se expressar. “Li, há pouco tempo, um estudo com quase duas mil pessoas sobre isso. O material expõe que, para ter filhos emocionalmente saudáveis, é preciso gastar no mínimo 15 minutos diários de conversa olho no olho. Metade dos pais investigados não realizava isso”, destaca.


Por Felipe Lemos.



 
 
 

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